O Trem de Ferro da Mauritania
O Trem de Minério de Ferro da Mauritania é uma das atrações turísticas mais intrigantes do país, que fica localizado no extremo noroeste da África e é conhecido como espinha dorsal do Saara, por cortar o deserto de leste a oeste por 400km. Em um país conhecido por suas dunas de areia e deserto, o trem é uma maravilha da engenharia moderna e é, sem dúvida, uma das maneiras mais emocionantes de explorar a região.
Com mais de 2,5 km de comprimento e carregando mais de 200 vagões de minério de ferro, este trem é uma das maiores ferrovias de carga do mundo, o trem mais longo do mundo e o mais pesado. O minério de ferro é responsável por 65% das exportações da Mauritânia, e o trem sai lotado de minério todos os dias da cidade de Zouerat até o porto em Nouadhibou, no noroeste da Mauritania.
Além dos 200 vagões de minério, o trem ainda carrega água e tem um vagão de passageiros. Mas muitos locais não tem dinheiro para pagar a passagem no vagão, e assim começaram a utilizar os vagões de carga para se locomoverem. Hoje os turistas fazem o mesmo pelas fotos e aventura. Mas, apesar de andar no topo dos vagões ser uma experiência inesquecível, não é para os fracos de coração. É uma aventura perigosa, mas emocionante, que oferece vistas deslumbrantes do deserto e do terreno árido. Na minha opinião, o a viagem de trem é a melhor maneira de ver a paisagem da Mauritania.
O desafio do trem da Mauritânia
As condições são bastante desafiadoras: o sol é forte e o vento pode ser intenso, e é necessário levar água e protetor solar. O vento também pode levantar uma grande quantidade de poeira e areia, por isso é importante usar óculos de proteção e um lenço para cobrir o rosto.
Mas, apesar dessas dificuldades, a jornada é única e inesquecível. É uma oportunidade única de ver o deserto em todo o seu esplendor e experimentar a vida na Mauritânia de uma maneira que poucos viajantes experimentaram. A viagem é uma jornada de autodescoberta, uma oportunidade de ver um lado da Mauritânia que poucos turistas têm a chance de ver.
Se você está procurando por uma experiência de viagem verdadeiramente única, então andar no topo de um vagão de ferro é uma experiência que certamente vale a pena tentar, e nesse post eu vou te ensinar a atingir esse objetivo.
O caminho percorrido pelo trem e as paisagens que você pode esperar ver
A jornada do Trem de Minério de Ferro da Mauritania acontece normalmente de Zouérat até Nouadhibou, junto com a carga de ferro que sai da mina em direção ao porto. O trem também faz o caminho inverso, mas aí estará vazio, então esse trecho não é tão interessante.
Embora seja uma viagem longa (são 20 horas de trajeto), a jornada de Zouérat até Nouadhibou é certamente uma experiência inegavelmente incrível e única. Você pode observar a vida selvagem do deserto, ver as comunidades locais nômades e as cidades à medida que o trem passa, e apreciar vistas incríveis do deserto ao longo do caminho.
Há uma parada de cerca de 20 minutos na cidade de Choum, após cerca de 4 horas de viagem. Muita gente pega o trem ali, mas sugerimos fazer o trajeto completo por dois motivos. Primeiro que se é pra sofrer, o melhor é saber que aproveitou completamente. Depois tem a questão do horário. Muitas vezes o trem atrasa. Se você tiver o azar de pegar ele com o sol se pondo em Choum, vai passar praticamente o caminho completo no escuro, podendo ter uma visão do caminho somente por umas duas horas ao amanhecer.
Como chegar até o início da jornada: O caminho até Zouerat
Fazer o caminho entre Zouerat a Nouadhibou em cima do trem não é nada fácil, mas primeiro você tem que chegar até Zouerat, e esse caminho é tão difícil quanto! Acredite se quiser. Voos para a Mauritânia são bem caros, mais caros do que pros seus vizinhos Marrocos e Saara Ocidental.
No nosso caso estávamos na Tunísia, mas o processo é parecido para quem vem do Brasil ou outro país. Compramos uma passagem até Dakhla, uma cidade que fica no Saara Ocidental, um país que não existe oficialmente. Ele é reclamado pelo Marrocos como parte de seu território, mas tem sua autonomia reconhecida por cerca de 70 países.
De Dakhla é possível pegar um ônibus até a fronteira por cerca de 30 dólares que leva 6 horas que sai diariamente pela manhã da empresa Supratours. O ticket já inclui a segunda parte da jornada, que pode ser da fronteira até Nouadhibou ou Nouachott, a capital do país. Nós decidimos ir para este segundo, pois assim poderíamos conhecer um pouco mais das atrações da Mauritânia, e depois voltar de trem até Nouadhibou.
Dentro da Mauritania
De Nouachott havia duas opções. Uma van de 12 horas até Zouerat, ou um voo pela empresa local Mauritania Airlines. Esse voo não aparece no Skyscanner, então você precisa buscar diretamente no site da empresa aérea. Ele também não acontece todo dia, e o próximo seria 3 dias depois. Nesse caso a melhor opção pra gente foi a van mesmo, em uma viagem de dia inteiro com várias paradas para as rezas muçulmanas.
Chegamos a cidade por volta das 21hs e fomos direto para o hotel que vimos em um blog, chamado de Titris. Sugerimos fortemente que vocês fiquem nesse hotel, não só porque ele tem uma estrutura razoável e um valor bom (45 euros por noite), mas principalmente porque o dono fala inglês e espanhol e tem contatos na mina de Zouerat, que vou falar mais no próximo item.
A mina de ferro de Zouerat – O início do trem da Mauritania
Anota essa dica, que é uma das coisas mais interessantes e não vimos em nenhum blog nem vídeo do youtube.
Chegamos no sábado a noite no hotel. No domingo tomamos café da manhã e conversando com o dono do hotel ele disse que estava tendo um tour no dia, e a gente tinha perdido! Passamos umas duas horas explicando para ele como queríamos visitar, e a Soraya até quase chorou pra convencê-lo a nos ajudar. No fim ele ligou para alguém da mina e nos disse para correr para o carro dele, com a roupa do corpo mesmo que conseguiríamos participar do tour também.
Eram cerca de 15 franceses no tour, e fomos levados pelos funcionários da mina até a montanha onde pudemos ver o buraco de onde é retirado o minério de ferro com aqueles caminhões de 8 metros de altura. Dali os caminhões descarregam a carga em uma esteira, que é levada diretamente para o trem, sem nenhum tipo de tratamento ou beneficiamento. O material exportado é a montanha mesmo, nua e crua.
Foi uma visita rápida, de umas duas horas, e gratuita, mas que valeu muito a pena por ser um complemento do passeio que faríamos logo depois. Teminamos por volta das 16hs. Aqui não temos certeza, mas achávamos que ainda seria possível pegar o trem no mesmo dia. O dono do hotel disse que ele já havia partido, e teríamos que pegar no dia seguinte. Nunca saberemos se era verdade, ou se ele só quis que pagássemos uma noite a mais de hotel. Enfim, posso dizer que a visita valeu os 45 euros extras que gastamos no hotel.
Trem da Mauritania – Como pegar o trem
O trem tem previsão de sair todos os dias por volta das 12hs, mas todos na cidade sabem que ele atrasa. Pode ser que atrase 1 hora, ou 12 horas. O taxista nos levou até um local muito cheio de lixo, com cerca de 20 pessoas locais esperando.
Ficamos ali por umas 2 horas até que apareceu um trem pequeno, com uma locomotiva, um vagão de passageiros e um de carga, mas vazio. A maioria dos locais entraram no de passageiros, e alguns entraram com caixas e mochilas no vagão de cargas. Nesse momento encontramos mais um casal de turistas, que foram informados que esse pequeno trem nos levaria até o trem de verdade.
Mas passamos 6 horas ali dentro daquele vagão! Como ele não tem teto, o sol na cabeça incomodava muito, além de ficar com a parede muito quente por causa da luz solar. Havia mais uns 15 locais ali junto com nós 4 turistas. Eles fizeram uma fogueira com carvão pra fazer chá. Abriram uma panela grande de comida e nos ofereceram, e passaram um bom tempo cantarolando e batendo em tambores, algo como um pagode local. Essas horas foram as mais cansativas de toda a viagem, porque nunca sabíamos quando terminaria.
A jornada vai começar
De repente o trem da Mauritania começou a se mexer! Mas andamos apenas uns 30 minutos e ele voltou de ré para o mesmo lugar. Parecia que era apenas uma manobra pra se encaixar em outros vagões. Os locais começaram a cobrir o chão com lona e papelão e parecia que a viagem deles seria ali mesmo. A gente começou a ficar preocupado, talvez nunca veríamos o ferro.
Mas uma locomotiva apareceu, e quando o maquinista nos viu disse para nos juntarmos a ele (os 4 turistas). Isso mesmo, como se essa viagem já não fosse maluca suficiente, andamos por cerca de 20km dentro de uma locomotiva até o local onde o ponto que o trem de minério estava. O maquinista e o ajudante estavam todos animados, falando sobre o Brasil, tirando fotos, mas no final pediram propina pela ajuda que nos deram! Coisas da Mauritânia. Tirei uma nota de 100 dinheiros deles, o equivalente a 2 euros. Ele não ficou muito feliz não, discutiu um pouco mas foi embora. O outro turista que era Belga deu 10 euros.
Enfim chegamos ao vagão cheio de minério de ferro. Soraya e eu entramos em um, o outro casal de gringos no outro. Estamos no famoso trem da Mauritânia! Já se passava das 9 horas da noite.
A jornada no trem da Mauritania
Entramos em um vagão com pedras e logo nos acomodamos. Aproveitamos para jantar e curtir as estrelas. Cada um pegou um lado do trem e arrumamos nossa coberta. Depois do dia agitado, não demorou para pegarmos no sono. Chegamos a Choum por volta da 1 da manhã. Vimos pessoas subindo em outros vagões.
Mas logo a Soraya veio para o meu lado e dormimos juntos para ficar mais aquecidos. O vento já estava começando a ficar forte e cobrimos as cabeças. Acordamos por volta das 6 horas da manhã pra ver o sol nascer. Uma vista incrível de cima do trem!
O resto da viagem foi bem calma. Foram boas horas curtindo a passagem, assistindo filmes e lendo livros. Mas já vai preparado que a viagem é longa, em todo o tempo vendo o deserto, em alguns momentos podemos ver vilas nômades. Não tem muito o que comentar desta parte da jornada. Sugiro ver nosso vídeo do youtube!
As 16hs o trem chegou ao destino. Havia muitos táxis esperando e foi simples nos levar até o hotel. Fizemos a reserva do hotel de Noadhibou pelo Booking.com
Dicas importantes para sua jornada:
- O melhor é ficar nos primeiros vagões, pois conforme bate o vento, a poeira de minério de ferro vai em direção aos vagões mais de trás.
- Há vagões de pedras de minério e areia de minério. As pedras são boas porque suja menos (ainda suja muito, mas bem menos do que estar enterrado em poeira preta). A areia imagino que seja mais confortável para dormir. Vai da escolha de cada um.
- Sugiro pegar um vagão um pouco mais vazio. O nosso era bem cheio, e falaram que assim era bom porque ficava alto para tirar fotos. Mas durante a noite batia muito vento! O vagão de trás tinha menos minério e parecia mais protegido.
- Leve comida! Contando o tempo de espera e o trajeto do trem, ficamos mais de 28 horas no passeio. Compramos na noite anterior sanduíches prontos de uma lanchonete perto do hotel. Foram 7 sanduíches que serviram como almoço, jantar, café da manhã e almoço de novo. Você vai estar todo sujo, inclusive as mãos, então sanduíches embalados são uma opção pra você não precisar segurar diretamente neles.
- Leve muita água! Nós levamos uns 5 litros e acho que poderia ter sido mais. Talvez uns 4 litros por pessoa pra não ter risco. Levamos também uma garrafa de coca cola grande e um iogurte grande.
- Leve o kindle e filmes no celular. Ver o deserto e as estrelas no trem da Mauritania por 20 horas enjoa. Não esqueça de bateria externa.
Mais dicas importantes:
- Embale suas coisas. Tudo fica muito sujo. Compramos um saco azul na cidade por 2 reais e lacramos tudo que não usaríamos durante o dia. Nossa mala de verdade ficou em Dakhla. (Não vai levar a mala de rodinha de 20kg pra subir no vagão né?)
- O sol é forte e protetor solar não é suficiente mas usamos aquelas camisetas de manga longa com proteção UV e o turbante cobrindo todo o rosto. No final estávamos sujos, mas não com queimaduras do sol.
- Algumas pessoas levam óculos de proteção desses de ski, mas a gente não viu necessidade não.
- Fomos no inverno. A noite apesar de não fazer muito frio (imagino que uns 10 graus), tem muito vento! O pessoal sugere levar sacos de dormir. Como a gente não tinha como comprar ali, achamos uns cobertores grossos por cerca de 20 reais cada. Metade dele por baixo do corpo e metade se cobrindo. Usamos nossas jaquetas grossas, dormimos de meias e botas e abraçados, e mesmo assim passamos um pouco de frio pela manhã.
- Dizem que o trem é um dos mais mortíferos do mundo porque algumas pessoas caem dos vagões. Ele não vai muito rápido (uns 50km;h), mas de vez em quando dá uns trancos que são perigosos. O melhor é ficar sempre sentado ou abaixado.
- As necessidades são ali em cima mesmo. Então faça o número 2 antes de sair de casa e leve papel higiênico.
- O passeio na mina de ferro é gratuito mas só acontece aos domingos.
- Não sabemos até quando isso será permitido. Portanto tente ir o mais cedo possível.
- Leia mais sobre a Mauritania e suas atrações aqui!
- Aproveite a jornada, mas tome cuidado!
Conclusão sobre o Trem da Mauritânia – Espinha Dorsal do Saara
Em conclusão, a viagem no Trem de Minério de Ferro da Mauritânia é uma experiência única e emocionante que oferece vistas incríveis do deserto do Saara. No entanto, é importante lembrar que essa viagem envolve riscos e é essencial seguir as instruções de segurança fornecidas pelo guia turístico ou pelo pessoal do trem.
Além disso, é importante ser consciente e respeitoso em relação à cultura e à comunidade local e seguir práticas de turismo responsável e sustentável. Portanto, a escolha de viajar de forma responsável e consciente não apenas beneficia as comunidades locais e o meio ambiente, mas também pode tornar a experiência de viagem mais autêntica e significativa para os viajantes.
Por fim, a viagem no Trem de Minério de Ferro da Mauritânia pode ser uma oportunidade única para experimentar a beleza e a cultura do deserto do Saara, enquanto também apoiando o turismo responsável e sustentável na região, mas com a devida precaução e conscientização, os viajantes podem ter uma experiência inesquecível e gratificante.
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Jordana
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Sensacional, parabéns pela incrível jornada. Estou planejando fazer esse percurso no ano que vem, vou utilizar muito as dicas de vocês!!!! SHOW !!!