Sim, apesar das autoridades não recomendarem uma visita à Síria no atual ano, 2022, nós fomos ver como está a Síria hoje por causa da guerra civil e vamos contar pra vocês como foi essa experiência no Oriente Médio e as crises que misturam o presidente Bashar Al Assad, Primavera Árabe, Estado Islâmico (e agora até covid 19)
A vontade de ver como está a Siria hoje
Viajamos mais de 1 mês na Turquia em 2020, nessa viagem cruzamos o país até Mardin, o lado curdo da Turquia. Bom, mas isso é assunto pra outro post. E de Mardin seguidos até Erbil no Iraque. A parte curda do Iraque nós, brasileiros, podemos visitar sem visto prévio. Ele é concedido na fronteiro sem problemas e gratuitamente e nem eles amam o Brasil.
Naquela ocasião percorremos ao longo da fronteira com a Síria à noite, era possível ver ao fundo explosões, que não sabíamos ao certo o que era. Ali a vontade de cruzar a fronteira aumentava, de conhecer esse povo que há um tempo já migrava para o Brasil em busca de esperança e um novo futuro.
Como a Siria está hoje?
Como tudo começou
A vontade ficou guardada e no inicio de 2022 uma amiga brasileira que é casada com um Sírio e hoje mora em Londres foi até a Síria visitar a família. Já tínhamos procurado vôos até Damasco e eram caríssimos. Mas eles foram de um jeito diferente, voaram até Beirute e de lá pegaram um carro e em poucas horas tinha cruzado a fronteira com a Síria, tudo muito tranquilo, mesmo com a guerra civil e a crise econômica.
Fiquei atenta às postagens dela e ela comentava sobre a dificuldade de conseguir o visto para os seus pais, mas conversa com e com outro e eles conseguiram o visto e também foram visitá-la para conhecer a família do marido que morava na Síria. Ela me ajudou com muitas informações que também vou compartilhar com vocês.
Como está a Siria hoje – O visto
Solicitar o visto da Síria é bem fácil, só mandar um e-mail para a embaixada, eles te mandam um formulário você preenche. Eles dizem que vai demorar um mês. Tudo lindo! Claramente não foi assim…
A primeira resposta veio depois de um mês: negativa pois nós não tínhamos hotel reservado. Realmente eu não havia feito reserva, no formulário eles pediam apenas um contato de hotel na Síria. Quando é preciso reservas de hotéis nós recorremos ao Booking e escolhemos um com cancelamento grátis, mas na Síria não há nenhum hotel disponível nos sites de reserva de hotéis.
Liguei em alguns hotéis explicando minha situação e um deles concordou em fazer a reserva prévia. Enviei novamente o visto faltando 45 dias para nossa viagem. Passado 30 dias nada do visto e a embaixada disse que em 10 dias provavelmente teríamos o retorno, que também não aconteceu.
Como também exploraríamos o Líbano (veja aqui o que conhecer no Líbano) estávamos dispostos a esperar até o último minuto. Porém chegando nos últimos dias ainda não tínhamos notícias do visto.
A solução
Fizemos alguns tours no Líbano com uma guia brasileira, a Carla do @carla.rodando.o.líbano (maravilhosa e super indicamos) e ela nos indicou uma agência libanesa que emitia o visto e
A Agência emitiu o nossos vistos em 1 dia e meio, segundo eles foi o tempo record e então seguimos em tour de 3 dias pela tão esperada Síria! O tour incluía Damasco, Maalula e o Crac des Chevaliers (fortaleza do tempo das cruzadas) e 100% guiado. Era pouco e não era o estilo de viagem que estamos acostumados e que gostamos, mas era o que tínhamos.
O caminho
Saímos cedo de Beirute em direção à Damasco, um motorista Sírio veio nos buscar em um carro confortável. O trânsito no Líbano é bem doido, portanto acostume-se com carros andando tranquilamente na contra-mão.
Uns quilômetros antes da fronteira paramos em uma lanchonete na beira da estrada, vimos muita gente trocando dinheiro e resolvemos, então, trocar o nosso. O estimado era gastar 25U$ por dia por pessoa.
Na Síria é proibido trocar dinheiro, então você tem que fazer enquanto ainda estiver no Líbano. A cotação estava realmente melhor nessa lanchonete do que na fronteira em si, mas pouca coisa. Todos trabalham com o valor do cambio do mercado clandestino, o cambio oficial tem valor muito abaixo.
Lá também vimos muita gente comprando produtos como Nutella, Pringles, Oreo, Snickers, esses tipos de guloseimas de marcas conhecidas. Isso acontece porque na Síria só vendem produtos sírios, há várias cópias dos produtos, é uma atração à parte ir no mercado.
Chegando na fronteira pagamos 10U$ para entrar, cada país tem um valor a ser pago e como o Brasil tem boas relações com a Síria, recebe refugiados, nossa taxa é bem baixinha. O EUA por exemplo tem pagar 140U$ e os próprios Sírios tem que pagar mais que a gente para retornar ao país, loucura.
Tudo tranquilo, seguimos então viagem para ver como a Siria está hoje. Da fronteira até Damasco fomos parados diversas vezes (pelo menos umas 10) no caminho, o motorista toda vez dava pequenas quantias em dinheiro para os guardas, esses prontamente deixavam seguir viagem ou olhavam o porta malas e depois nos liberavam.
Como está a Siria hoje – O tour
A Síria, além de estar presente nos noticiários de guerra civil e nos nossos corações, com os refugiados sem ajuda humanitária, também é repleta de história, Damasco disputa com Jericó o título de cidade habitada mais antiga do mundo, se é ou não não sabemos, mas sim, Damasco é a capital mais antigo do mundo. É ali que surge o berço da civilização, faz parte da chamada Mesopotâmia. Estávamos bem ansiosos para explorar!
Chegamos e fomos ao hotel na parte antiga de Damasco, um hotel excelente. De lá fomos caminhando pela cidade. Infelizmente chegamos lá em uma sexta-feira, dia sagrada para os muçulmanos, o comércio estava todo fechado (tipo o nosso domingo).
Visitamos a mesquita…., a casa de Ananias, o café mais antigo. Vimos igrejas e mesquitas coabitarem lado a lado. À noite andamos pelas ruas e vielas do centro antigo de Damasco e vimos muita vida, o comércio reabrindo, o pessoal mais jovem bebendo e presenciamos até um casamento.
As fotos do presidente Bashar al Assad estampam outdoors por todos os lados. Em alguns até parece propaganda de roupa!
Segundo dia
No dia seguinte seguimos cedo para Maalula, a última cidade que se tem registro que fala Aramaico, a língua que Jesus falava.
Depois fomos ao Crac des Chevaliers, uma antiga fortaleza da época das cruzadas. É a fortaleza desse período mais bem preservada. Não é à toa que desde 2006 é considerada um dos patrimônios da Unesco, ela foi parcialmente danificada durante a Guerra Civil, mas obras de reconstrução já estão bem adiantadas e você pode visitá-la normalmente.
No terceiro dia pedimos encarecidamente que queríamos ir ao mercado sozinhos, depois de dialogar bastante que não sairíamos das proximidades e que estávamos acostumados com países em conflito o guia nos liberou.
Terceiro dia
Como ele havia dito que o museu de Damasco estava fechado não visitamos no primeiro dia. Contudo, durante a noite, descobri que estava aberto e não podia perder a oportunidade. Logo cedo estávamos lá na porta e realmente algumas parte estavam fechadas, mas deu pra conhecer um pouco e depois seguimos para o Souk (mercado em árabe).
Antes de partimos exploramos o antigo Souk de Damasco com suas cores, sabores, cheiros, gente que lugar espetacular! Não, mas pra mim é onde mora o verdadeiro sabor dos países árabes, é lá que vemos a habilidade em vender, vemos a curiosidade e como eles amam o Brasil! Bem parecido com outros países do Oriente Médio.
Visitamos um mercado comum no caminho de volta a Beirute, um dos nossos programas preferidos em um novo país. E em 1h estávamos na fronteira de volta.
Quanto Custou?
Nós optamos por fazer uma viagem barata, mas isso não nos impede de aproveitar as oportunidades que surgem. Se é necessário gastar mais para algo que gostaríamos muito de fazer nós não medimos esforços.
Esse tour saiu bem do nosso orçamento e custou 500U$ por pessoa. Estava incluído o visto, o transporte, a hospedagem e o guia. Nós não amamos o nosso guia, ele falava muito da história bíblica (que é um dos motivos que mais atraem turistas hoje para a Síria) e nós queríamos saber era da normalidade, do dia a dia, mas longe de ele ter sido ruim.
Conclusão
Enfim, nossa conclusão é que valeu demais ter a oportunidade de explorar esse país riquíssimo em cultura. Ver que os noticiários mostram o lado que dá “Ibope” e não necessariamente a realidade que eles vivem.
Sim, infelizmente faltou muito o que visitar, mas ver com os próprios olhos os verdadeiros problemas que eles sofrem como a falta de energia elétrica, a falta de alguns tipos de alimentos devido aos bloqueios econômicos.
Em nenhum momento nos sentimos inseguros por lá, ao contrário, todas as vezes fomos muito bem recebidos por todos e com aquele desejo latente de mostrar a beleza e as gostosuras do país. Recomendamos fortemente a visita caso você tenha a oportunidade de ver como está a Síria hoje, apesar do Estado Islâmico e a crise no Oriente Médio. (E ainda bem que o Covid 19 já acabou!)
ola, gostei muito do relato e gostaria de saber qual a agência de turismo vocês contrataram