Nós não somos aficcionados por trilha ou as pessoas mais ativas, apesar dos nossos dias terem bastante caminhadas (passando alguns até de 20km por dia), tudo é feito em terreno asfaltado, sem muitos aclives e declives. Tínhamos feito antes a trilha de 10 dias do Monte Roraima, mas não temos muitas experiências com caminhadas longas como o Everest Base Camp.
O Raphael queria muito fazer essa trilha, dizia que era muito bonita e que o desafio de chegar até o Base Camp do Everest era interessante para um viajante. Acabei sendo convencida por ele, apesar de não ver muito sentido em andar tanto tempo até um lugar, chegar lá e voltar.
O fato de não poder tomar banho por alguns dias durante a trilha também não me agradava, então já fui preparando minha mente para o cansaço que seria acumulado ao longo dos dias e para a falta de banho.
Chegada em Kathmandu
Chegamos em Katmandu e ficamos hospedados na região na Thamel Street no Flying Yak. Lá é a área mais turística da cidade e onde encontramos todas as lojinhas que alugam/vendem acessórios para o trekking. Logo nessa região você vai encontrar praticamente tudo que você vai precisar levar, e quando eu falo tudo não estou exagerando. É tudo mesmo!
Se quiser saber o que levamos na trilha dá uma olhada nesse post.
Foi por lá que alugamos a bota que usei, os sticks e o saco de dormir. Compramos algumas coisas que estavam faltando com segunda pele, calça impermeável, fleece, remédio pra altitude entre outras coisas. Há muitas lojas vendendo réplicas, logo produtos falsificados, mas uma rua especificamente tem as lojas originais: Trivedi Sadak.
Fechamos antes o serviço de porter/guia, o vôo e as permissões necessárias com o próprio gerente do Flying Yak. Ao nosso ver as permissões conseguiríamos fazer por conta, mas os outros dois nós não recomendamos e você já vai entender o porquê.
Vôo para Luka
A trilha para do Acampamento Base do Everest, o famoso EBC (Everest Base Camp) começa em Lukla no Nepal. Para chegar até lá foi preciso pegar um vôo em Katmandu e a aventura já começou ai!
Tudo pronto, fomos bem cedo ao aeroporto com a promessa de embarcarmos no primeiro vôo para Lukla, mas infelizmente o aeroporto estava fechado. Por Lukla ficar bem no meio das montanhas e ser considerado o aeroporto mais perigoso do mundo ele com qualquer neblina já fecha. Aliás, se você quiser acompanhar a situação da visibilidade do aeroporto é só ver esse livestream no Youtube de um hostel lá perto, assim voce fica esperto!
Ficamos no aeroporto até 13hs e nada do aeroporto abrir, outros lugares também estavam com vôos cancelados, como Pokhara, por exemplo. Na hora de remarcar o vôo a cia aérea foi bem clara e disse que apenas a agência podia remarcar. Entramos em contato com o Sr Santos do Flying Yak e beleza, remarcamos pro dia seguinte no primeiro vôo disponível, que foi até em outra cia aérea.
Percebemos que 2 meninas que estavam lá aguardando estavam bem preocupadas porque não tinha vôo daquela cia disponível pro próximo dia. Então se puder fechar com uma agência acredito que seja mais fácil caso você precise remarcar o vôo.
E lá vamos nós no segundo dia para o aeroporto bem confiantes! O primeiro vôo saiu! O segundo também e ai o aeroporto fechou! Com os cartões de embarque nas mãos ficamos bem decepcionados e dividimos nossa angustia com metade do aeroporto que estava lá na mesma situação. O segundo vôo não conseguiu pousar, quem decidiu ir de helicóptero também voltou porque o tempo estava tão ruim que também não conseguiram pousar.
Tudo remarcado de novo, porém o vôo do terceiro dia era ainda mais tarde. Preocupados chegamos a pensar em outras possibilidades, mas resolvemos tentar mais aquele dia. E deu bom! O dia estava claro, sem nuvens em Lukla e muita gente conseguiu voar! Valeu a persistência. Pousar em Lukla é uma experiência e tanto e faz parte da aventura!
Dia 1 Trilha do Everest Base Camp- De Lukla até Phakding
Chegamos em Lukla na hora do almoço. Almoçamos e seguimos a trilha, que no primeiro dia foi bem fácil e bem bonita. Esse é dia que exige menos do seu corpo, 16hs já estávamos em Phakding.
Nossa acomodação foi o Sunrise Lodge e tinha até banheiro com chuveiro no quarto. Estava tudo limpo e a comida gostosa, o ponto alto foi o cachorro bem fofinho que fica por lá! A cidade tem uma padaria, a Everest Bakery, onde você pode usar o wifi e carregar seus devices free desde que consuma lá.
Dia 2 Trilha do Everest Base Camp- Phakding até Namche Bazaar
Saímos cedo em direção Namche Bazaar, nesse dia você tem que ir bem preparado para subir bastante! O dia começa margeando o rio, o que nos proporciona vistas estonteantes do vale, muita cachoeira e os primeiros picos nevados começam a aparecer.
A entrada oficial no Parque de Sagarmatha é após uns 30% da trilha, um pouco mais à frente paramos para tomar um chá e aproveitamos para carregar os celulares, já que era gratuito e também para secar algumas coisas já que o sol estava bem forte.
É nesse dia também que passamos pelas famosa Hillary Bridge, é a ponte mais alta de todo trekking e é famosa por serem duas pontes, uma sobre a outra. A debaixo foi desativada e a que usamos para passar é a mais alta.
No meio do caminho há também um Everest View Point, que quando passamos estava nublado e não dava pra ver nada. Chegamos em Namche 13hs e almoçamos apenas na nossa acomodação, onde passaríamos 2 dias. Comer algo pesado durante a trilha nos deixava mais preguiçosos, por isso decidimos evitar.
Dia 3 – Aclimatação em Namche Bazaar
Queríamos ter a vista do Everest de todo jeito, então caminhamos até o Hotel Everest View Point. A subida é puxada, entretanto nada que a vista não recompense. Chegamos lá tomamos um chocolate quente vendo nada menos que o senhor Everest!
Depois seguimos para o mosteiro que tem a cabeça Yet, literalmente “para inglês ver”. Voltamos e ainda conseguimos dar uma volta por Namche, é o maior vilarejo que passamos na trilha. Fomos até o museu dos Sherpas.
Dia 4 – Namche Bazaar até Tengboche
Esse dia começa todo tranquilo, você até desde uma parte, mas não se engane, tudo que você desceu vai ter que subir duplicado. Você só encontra umas pessoas descendo tentando de dar apoio, mas parece sem fim.
Descansamos um pouco e continuamos subindo, conseguimos chegar a tempo para a cerimônia budista que acontece no mosteiro da cidade de Tengboche. Os monges cantam, oram, emanam mantras, lindo de se ver!
Nesse dia cometemos um grande erro. Na nossa acomodação o banho ficava do lado de fora e, apesar de ser bem perto, nós pegamos friagem pra voltar ao quentinho e ai começou nossa gripe da montanha! Vocês vão entender como isso nos prejudicou mais pra frente!
Dia 5 – Tengboche até Dingboche
Que caminho foi esse! As vistas mais estonteantes acontecem nesse dia, você grande parte dele com a montanha Amadablan na sua frente, grande, imponente! Pegamos um dia ensolarado e tiramos muitas fotos!
Foi o dia mais feliz pra gente na trilha!
Dia 6 – Aclimatação em Dingboche
Esse foi de todos o dia mais chato da trilha. Apesar de ser cansativo, não é tanto, ele é mais pra aclimatar mesmo, você sobe até um ponto e desce. O apetite faltava muito, parecia que nenhuma comida tinha sabor.
Tinha muito vento na volta e o caminho tem muita pedra, o que exige muita atenção na caminhada.
Dia 7 – Dingboche até Lobuche
É até engraçado dizer, mas nesse dia você mal começa a andar e já está cansado. A altitude pega bastante, mas o segredo é muita água e paciência, um passo de cada vez.
No trajeto você passa por Tukla e depois tem uma subida bem puxada, acho que a mais puxada da trilha. Quando ela acaba você encontra o memorial dos alpinistas, ali não estão os corpos, muitos deles ainda estão pelo Everest, só é uma forma de lembra-los. Um dos mais conhecidos é o do Scott Fischer, uma das vítimas do anos de 1996, um dos mais fatais na montanha mais alta do mundo.
Chegamos com um pouco de chuvisco, mais tarde nevou e foi o primeiro dia que usamos o saco de dormir. Dentro da acomodação fazia realmente muito frio e à noite foi péssima, em suma acordamos várias vezes, com o nariz trancado não conseguíamos respirar, tivemos um pouco de dor de cabeça também. De todas essa foi a noite mais mal dormida.
Dia 8 – Lobuche – Gorak Shep – Everest. Base Camp
Nesse dia chegamos em Gorak Shep muito mal, além de estarmos nos sentido cansados a gripe/sinusite tinha se instalado de vez, tinha muito catarro e sentíamos ele por toda face, parece que quanto mais su
Dia 9 – Everest Base Camp até Tukla
Acordamos mais dispostos e com fé que chegaríamos até o Everest Base Camp, a maioria das pessoas já tinham saído da acomodação antes do sol nascer com destino a Kala Pattar.
Conversamos com algumas pessoas no dia anterior e a maioria delas não tinham chegado até o fim da trilha do Kala Pattar, pararam no caminho com muita dor de cabeça, enjoo, frio. Alguns amigos nossos também comentaram sobre a dificuldade da trilha, que é íngrime e como você sai antes do sol nascer também faz muito frio. Com isso, já no dia anterior decidimos abortar a missão e garantir nosso Base Camp.
Posso dizer que, apesar de me sentir melhor, não estava 100%. A caminhada exigiu bastante e fui ultrapassando limites que eu nem imaginaria que poderia alcançar, nessa hora trabalhar a mente foi essencial e esta parecia falhar mais que o corpo. Minha caminhada também foi pensando na recompensa que tínhamos preparados para nós mesmos: um brinde de chocolate Snickers!
Chegamos ao Everest Base Camp com ele praticamente vazio, no lugar somente as lembranças deixada por viajantes dos dias anteriores e as bandeiras budistas tremulando. O dia estava claro e o sol começava a bater na pedra, que ficou só pra gente durante uma meia hora. Muitas fotos depois partimos.
No caminho encontramos o pessoal que monta uma barraquinha com chá para os turista lá e posteriormente os turistas mais preparados que vinham desde Lobuche.
De volta a Gorak Shep tentamos acionar o seguro, o que não conseguimos e contamos aqui, depois de 2hs na tentativa resolvemos partir, achamos que o fato de diminuir a altitude nos ajudaria. A intenção era chegar até Periche, mas começou a ficar tarde e muito frio e decidimos parar em Tukla.
Dia 10 – Tukla até Namche Bazaar
Esse dia foi o mais tenso de todos. Iniciamos cedo a caminhada, começamos vendo vários yaks bebês, seguimos eles pelo pasto, depois passar por Periche tomamos leite de Nhac, a fêmea do Yak e suco de Seabuckthorn, uma frutinha endêmica. Tudo parecia tranquilo até começarmos realmente a descer.
O joelho começou a pegar e mesmo assim fomos seguindo. O dia parecia não ter fim, caminhávamos e o guia nos falava que ainda faltavam 6/5/4 horas. Começamos a perceber que o cansaço também chegava até ele, mas não desanimávamos, depois de 5 dias sem banho estávamos decididos a chegar em Namche Bazaar aquela noite.
O sol já tinha se posto quando o guia nos falou que ainda faltava 1h e meia de caminhada, eu estava exausta, com muita dor no joelho, mas segui firme. Quando finalmente avistei Namche e fomos chegando a algumas vendinhas parece que meu corpo disse chega. Cada passo parecia infinito, meu joelho gritava, o Raphael se propôs a carregar minha mochila, e parecia que tinha melhorado, mas logo a dor voltou.
O guia deixou nossas coisas na acomodação e voltou, ele não estava entendendo porque 15 minutos tinham virado mais de 1h descendo, foi dessa forma que cheguei em Namche. Parecia que aquele dia nunca ia acabar, aquele banho nunca ia chegar.
No dia meu celular apontou 30km de caminhada, só fiz tomar um bom banho, comer e dormir!
Dia 11 – Namche Bazaar até Lukla
Um outro dia, uma pessoa renovada, estávamos animados e seguros que naquele dia nossa caminhada terminaria!
Foi um dia bem intenso, com uma subida íngrime e muita descida também, mas foi bem menos cansativo que o anterior. Brincamos com as crianças, os cachorros e encontramos até coelhos pela trilha.
Chegamos em Lukla estava quase anoitecendo, com a notícia que havia 3 dias que não saiam ou chegavam vôos da cidade por conta do mau tempo. Naquele dia o máximo que conseguimos foi um banho de balde, já que o sol não tinha aparecido para esquentar a água nos aquecedores solares.
Fechamos a noite com um hambúrguer e uma Ipa tirada como chopp, até aprecia a melhor cerveja que tínhamos tomado na vida!
Dia 12 – Lukla até Katmandu
O dia amanheceu bem nublado e com o aeroporto fechado, nesse meio tempo tomamos café sem muitas expectativas que o vôo sairia, mas para nossa surpresa o tempo foi se abrindo e o do dono do hotel mandou nos arrumarmos e partimos para o aeroporto assim que o primeiro vôo pousasse.
Tivemos a oportunidade de ver um avião pousar do terraço do hotel e partimos. No caminho para o aeroporto conseguimos ver mais um avião pousando bem de pertinho. Essa é sem dúvida uma atração à parte em Lukla, é uma emoção grande ver o avião chegando e parecendo que vai bater no muro do aeroporto.
Depois de uma pequena discussão no aeroporto (normalmente os guias de grupos já conhecem os funcionários da empresa aérea e eles passam na frente – não pense que eles respeitam o horário do vôo, isso é enfeite) nós pegamos o próximo vôo. Sem grandes surpresas e com o tempo aberto chegamos em Katmandu.
Ter ou Não Porter na trilha do Everest Base Camp?
Esse é um questionamento que eu me fiz muito antes de fazer o Monte Roraima e acredito que tenha a mesma lógica para o Nepal.
A comunidade das vilas da montanha vivem com poucos recursos. Tudo é muito difícil de chegar lá e até na questão rural tudo também é escasso. Apenas alguns tipos de animais vivem a certa altitude e a agricultura também é precária. Então, a principio ser porter acaba sendo até uma questão de sobrevivência, é um trabalho comum.
Não vou dizer que não incomoda ver eles tão miúdos levando tanto peso montanha acima, mas seria hipócrita da minha parte achar que minha refeição chegou até lá em um passe de mágica. Ou foi através de um porter ou através de um animal. Então, nesse sentido, acho que vale sim pegar um pra você poder curtir sua trilha com mais tranquilidade (eu não teria conseguido fazer sem um porter) e também contribuir com a economia local.
Por isso feche com uma agência o porter mais o seguro pra ele, separe uma boa gorjeta para dar no final e, por favor, separe comida pra dar pra ele durante a trilha, principalmente guloseimas. Eles não tem acesso a isso e acaba sendo caro, portanto eles veem você comer e ficam com vontade! E ninguém vai negar um chocolatinho a mais de 3.000m de altitude depois de 1h de subida não é mesmo?
E valeu?
No final eu Soraya posso dizer que achei a trilha magnífica, mas foi, sim, bem pesada. Como fizemos sem nenhum treinamento prévio meu joelho sofreu muito na descida, idade né meus amores. Então o principal treinamento prévio que indico pra vocês é o fortalecimento do joelho e das costas.
Pra mim a frase “aproveitar o caminho e não só a chegada” nunca fez tanto sentido! As paisagens são definitivamente deslumbrantes e a fama de ser um dos trekkings mais lindos do mundo é justa! Vou ser sincera que não achei o máximo chegar no Base Camp do Everest, foi só mais um lugar da jornada.
Esperava um lugar com uma energia inexplicável, até porque estamos falando das montanhas mais altas do mundo, mas pra mim não rolou. Aliás estava esperando do Nepal muito do que vivi na Índia e não tem nada mais fácil de não ser alcançado do que uma expectativa hehehe.
Mas o fato de estar em vilarejos tão remotos, povos tão diferentes, lugares tão intocados, isso sim mexeu comigo. Ter tanto tempo pra pensar fez eu refletir sobre tanta coisa! É impressionante como nossa mente trabalha!
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